Fiquei velho esperando. Envelhecer é perder as lembranças e eu as perdi, quase todas, ao longo dos dias. Para onde fui, não haviam mais varandas ou janelas para vê-la e sorrir com ela. Comecei a sonhar com isso e a amava por toda a noite, para acordar chorando de saudade, com o cheiro dela nas mãos. Foram longas essas manhãs. Lembrava de madrugadas, da areia da praia nos seus pés, dá água do mar no seu corpo, da cor de mel...Até que parei de sonhar.
Andei nas ruas, em bares, rodinhas de violão e risadas, na praia; andava bestamente, mas sempre procurando o sonho que havia esquecido em algum lugar. Vi umas rosas, alegrias e amores que lembravam o sorriso dela. Então eu conseguia sonhar mais um pouco e acordar com um pedaço do som da sua voz. Mas até essas pequenas memórias as perdi em algum lugar.
Agora estou velho e nem enxergo direito. Passo dias e noites com a cabeça vazia de tudo, esperando. Acordo cedo, com as dores, sentindo falta de alguma coisa mas sem saber o que é. As vezes vou até a praia, sento na beira da água e o cheiro do mar e da areia me fazem chorar. Na volta, me acomodo na calçada de casa e olho para as varandas em frente, esperando que alguma coisa aconteça. Nada mudou nos últimos anos, nada aconteceu. Mas a saudade do que éramos, na verdade só a saudade, me faz esperar todas as manhãs pelo antigo novo dia...
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1 comentários:
=~)
Lindo é ler os cheiros de que vc me faz lembrar...
Na sua varanda, de onde explodia café, hoje só brotam gritos (do menino e sua avó), além de uma TV altíssima...
saudade.