17:45 | Author: M.
Parece que faz tanto tempo
Me acomete este desalento
pensando que você se foi
Tudo que ainda me dói
faz parte da minha luta
rasgando meu escafandro
A minha paixão é bruta.
Não vou esperar o solstício
amar, pra mim, é um vício
Pagarei na mesma moeda
o preço abissal da queda
Componho esse lamento
Chamando pelo teu nome
Minh'alma míngua de fome
É o meu esfacelamento
Teu olho, o meu sacrifício
inundou os meus orifícios
Catei tuas quinquilharias
Joguei pro mar carregar
Joguei tua patifaria
deixei de te navegar.

17:06 | Author: M.
Vou esperar o sol nascer
vou esperar pra ser
passar de espera ao ato
de fato
não há.
O tempo anuncia o sono
Não há fé ou dono
do doce sonho de agora
Acreditar não me basta
por que esperar me desgasta
por que quero mastigar
Ranger cada segundo
depois dar a volta a mundo
brincar de não me esconder.
06:00 | Author: M.

Tanto cansaço

Eu pulso de aço, cobre e zinco

Traço o amor com afinco

Sonho com este dia atroz.

Eu quero derreter os nós

Travar as línguas

Ter um sonho à míngua

De amor, de luz e de pó.

A arte de meu apelo

É fazer arrepiar os pêlos

Dos pentelhos.

Qualquer que seja o dia

Vai ser, de amor, uma orgia

Var ser bom de amanhecer

Tricotando um sol frágil

Até o olhar derreter

E teus dentes de escárnio

A quase me endurecer.

18:13 | Author: M.
Ai, quanta ironia
o tempo nos desafia a viver.
Outrora era margarida
agora só despedida
flor vermelha a arder.
Foste traço ou espinho
pétalas do caminho
Amor de empalidecer
Ai, quanta agonia
é essa maresia a me enferrujar
Travados os meus joelhos
posso me arrastar
Meu peito deseja euforia
a paixão que é agora tardia
é, em mim, ausência
Pulso nessa cadência
carente melancolia
Espero que os meus olhos vejam
o nascer deste dia.
Não movo nenhum só dedo
nem todos como queria
Espero a paixão voltar
pra minha vida macia.
Sem Compromisso
03:17 | Author: P

(Nelson Trigueiro / Geraldo Pereira)

Você só dança com ele
E diz que é sem compromisso
É bom acabar com isso
Não sou nenhum pai-joão

Quem trouxe você fui eu
Não faça papel de louca
Prá não haver bate-boca dentro do salão

Quando toca um samba
E eu lhe tiro pra dançar
Você me diz: não, eu agora tenho par

E sai dançando com ele, alegre e feliz
Quando pára o samba
Bate palma e pede bis

------\\-------

eu ainda acho incrível os caminhos que o samba têm para nos encontrar...e a capacidade que ele tem de contar coisas que a gente vive...

"Mas amar é sofrer
Mas amar é morrer de dor
Xangô, meu Senhor, saravá.
Me faça sofrer
Ah me faça morrer
Mas me faça morrer de amar
Xangô, meu Senhor, saravá
Xangô agodô...."
15:05 | Author: M.
A dor incendiou o céu com seu canto
Cobriu meu peito com o manto
Silencioso, acanhado, bruto.
Para enxergar eu luto
Eu fujo.

A dor arrancou minhas veias
Fez de mim velha, tacanha, alheia.
Fincou na história as mágoas
arrancou de meus olhos água
e sal.

Catou todos os poemas
Lançou sua cantilena
Ardeu por sobre o meu tempo
Gelou os meus pensamentos
Gemeu.

Dançou, mulher desvairada
Armou toda a palhaçada
E eu sorrindo, coringa
e o tempo indo
Couraça.
14:50 | Author: M.
Hoje a fé me abandonou
e agora?
Posso caminhar a pé
posso só ir embora
Posso entender que não é
O que eu posso,
o que eu peço,
o que eu forço.

A fé entrou de férias
Não quis mais me acompanhar
Não fez ares de séria
Não me convidou pra jantar
Sem ela eu fico intranquilo
Sem ela me vejo esquisito
Descompasso no caminhar

A fé travou os meus dentes
Rangeu as portas dos nervos
Me fez não sentir mais medo
Não posso cambalear
A fé atingiu os músculos
Cegou os meus átomos
derreteu todos os vínculos.

A fé me deixou atônito
Me fez de desespero cômico
Abandonou essa manhã ardida
Comeu meu projeto de vida
A fé traçou todos os poros
das veias do abandono
A fé me tornou meu dono
e me largou.
06:24 | Author: M.
Manhã papocando quintura no céu
O povo olhando pra cima
O vento assanhando a menina
Rezando tem até quem chore
Será que chove?
Será que dá pra chover?
É quase dia dezenove.
O sol esquentando o juízo
O nordestino entende
A água pra vida é preciso
Pra que tudo no chão se inove
Será que chove?
Será que dá pra chover?
É quase dia dezenove.
Se cai uma gota no chão
O olhar na janela em espanto
Parece até um canto
meu coração se comove
Será que chove?
Será que dá pra chover?
É quase dia dezenove.
De noite a brisa avisa
Alívío, à dormir convida
Mas logo o calor atazana
Não há quem fique na cama
Será que chove?
Será que dá pra chover?
É quase dia dezenove
Ainda me resta a rede
água pra minha sede
da morte não temo agora
No entanto, o povo de outrora
com a seca se apavora
Mas o tempo e a fome ensina
A ver que essa é a sina
Do homem da caatinga.
08:18 | Author: M.
O sol nasceu lilás
Não me diga "mas"
Querido, eu te desejo
Descobriremos onde essa noite jaz
É assim que se faz
Vamos lá, meu bem
É assim que se faz...
Tesão todo mundo tem
Não venha me falar de medo
Nem queira que eu acorde cedo
Não venha nem falar demais
É assim que se faz
Vamos lá, meu bem...
É assim que se faz
Não me queira além
Não esqueça de dançar essa noite
A morte esqueceu a foice
Lombra é um ser tão fulgás...
É assim que se faz...
Vamos lá, meu bem
Me dê o que me apraz
Eu quero também
É assim que se faz...