23:10 | Author: P

Não que ele seja do tipo que se interesse por um só tipo de mulher. Difícil encontrar quem se interesse por um só tipo de gente, muito embora haja certos elementos que coincidentemente, ou não, se repetem. Um simples anel poderia, nesse caso, fazer toda a diferença.

- Não sou eu que procuro, são elas que vêm! - protesta pros amigos que acham nisso um grande problema.

- Como? Claro que elas não vêm do nada! Alguma coisa você faz, meu!

- Bem, eu dou uma olhada as mãos...

- Mas porque, cara? Você pode só dar um fora e pronto...e se ela só gosta de usar um anel - interrompe outro.

- A gente gosta é do que é proibido, tudo que é proibido é mais gostoso. Tem um prazer a mais. E se ela não for comprometida, não tenho nada contra...rolou e pronto - e se sorria enquanto lembrava de inúmeras cenas que vinham a sua cabeça.

- Um dia um corno ainda te pega! - exclamam todos.

- Se o cara me pegar... O que eu posso fazer? Ou enfrentar ou fugir... E é justamente esse perigo que dá mais instigação quando rolam os encontros. E é pelo medo do cara descobrir que ela não pode me fazer muitas cobranças, sacaram?

- É, quem sabe...

Agora ele estava ali, parado. Do lado, um cara aparentemente desesperado em seus atos, gesticulando freneticamente, andando dum lado pro outro no pequenino espaço do elevador. Viu que horas eram. Passou a mão no cabelo. As portas se abriram, puxou um cigarro e acendeu com certa dificuldade.

O outro, quando saiu, puxou o celular do bolso e segundos depois o som de um aparelho tocando por trás da porta. Palavras que não escutou. Deu um longo trago. A porta se abriu e os dois entraram.

- Trepem! Agora! Eu preciso ver!

Ela não se mostrou resistente à idéia quando foi pegue pela cintura e teve seu corpo levemente erguido.

- Um dia um corno brabo ainda te pega!

- Ora! O cara me disse que só queria me ver trepando com a sua ex...Sei lá o que ele ia fazer depois comigo e com ela. Mas a idéia me soou agradável, e eu topei. Tem muita gente doida nesse mundo!

10:20 | Author: M.
Não sabia que horas eram exatamente e pouco entendia por que isso a incomodava
tanto. Não era a primeira insônia, a primeira madrugada. A verdade é que seria completamente
incomum se ela fosse dormir cedo e em paz, além do mais, o dia seguinte era só o dia
seguinte e ela sabia que acordaria com seu usual mau humor de quem dormiu nada ou quase
nada, passaria um café bem forte e faria questão de o tomar quase amargo, acompanhado de um cigarro e do silêncio que se instalava na casa juntamente com o sol da manhã. Levantou se
tomada por um aguneio que não podia compreender. Olhou o relógio da cozinha. 2:30 da manhã. "Merda." No momento em que se distraia com o gato que se distraia com qualquer outra coisa,
O telefone, histérico, a tirou do transe vazio.
- Alô - fingiu voz de sono.
- Estava dormindo, meu bem?!
- Não exatamente. Aconteceu alguma coisa?
- Não, não... Só queria te dizer que fiquei sabendo. - o fato de aparentemente não haverem
maiores problemas a deixou irritada. "Como alguém tem a audácia de ligar pra casa dela
naquela hora? Mesmo sabendo que ela estaria acordada... É bom ouvir voz humana, de qualquer forma."
- Sabendo de quê?
- De tudo. Você me traia, ele mesmo me contou.
- ...
- Não estou com raiva, mas não entendo. Por que fez isso? Eu te amava.
- Acha mesmo que ainda vale a pena discutir isso? Quero dizer... Nós nem estamos mais juntos
e...
- Você sabe que eu ainda te amo! - exaltou-se.
- Não sei o que dizer...
- Ok.Façamos assim, abra a porta, estamos aqui fora, eu e seu amante.
De fato, o que dizer numa situação dessas? Ela se sentia tonta, como a tivessem
espancado no rosto. Levemente largou o telefone no gancho e sem conseguir formular nenhuma
idéia firme, foi abrindo a porta. Ele avançou casa adentro, como se tivesse a força do ódio. Logo atrás dele, em silêncio criminoso, o amante.
- Agora, meu bem, eu quero, eu preciso ver!
- ? - o outro ainda calado, isso a irritava.
- Trepem! Agora! Eu preciso ver! Quero saber como é o teu gosto na boca de outro! Antes mesmo que ela protestasse, o amante, obediente, aproximou se e tomando a com firmeza fez com que a idéia de se desvencilhar parecesse impossível.Comeram se na sala, os dois. Criminosos, traidores. Espetáculo.
09:55 | Author: P

Edson viu toda a cena acontecendo incontáveis vezes durante a noite por mais que abstraísse seus pensamentos e acreditasse que não estava pensando nisso. Sabia que não poderia prever o que ia se suceder no momento seguinte e isso o fortalecia de certa forma. O mundo estava aberto (e talvez por seja por conta disso mesmo), tudo era tão absurdo que ele simplesmente não poderia saber se suportaria, se caberia dentro dessa imensidão que se abria. Um abismo que se abria, um abismo perfeito para o sumiço de toda forma de pensar. O estar longe de tudo e todos, mas ao mesmo tempo tão próximo, tão ele mesmo.

Beijou Alfredo-cor-de-cereja e cheirou sua mulher ainda vestida parcialmente com o vestido que lha realçava as curvas. Um momento de êxtase, uma sensação e um sentimento indescritíveis se instalaram nos três corpos deitados na cama.

Os lençóis eram de um verde aveludado.

Os corpos trocavam carícias, mundando de posição. Momentos dourados. Corações disparados. Dois homens e uma mulher. Três pessoas. Três corpos. Três...

Alfredo lembrou-se de suas palavras. Ela havia perguntado “Não tem vergonha?” e ele respondera “Nenhuma...”. Se sentia confuso com a entrada inesperada de Edson. O que estava acontecendo? “O que está acontecendo?” Não sabia direito o que sentia: se vergonha, ciúmes, gozo, transe, felicidade, desespero, medo...tudo se confundia, se misturava e se separava abruptamente. Via e sentia a satisfação dos corpos, inclusive do seu em estar ali naquele momento.

“O que está acontecendo?” como se sentisse todo peso do mundo lhe castigando por não saber colocar em palavras, estruturar bem tudo aquilo que lhe preenchia agora, sentiu-se angustiado. “O que está acontecendo?” Era tudo que conseguia por em palavras.

Ela o beijou, depois ele. E seu corpo começou a ser devorado, sentia-se fisgado em cada parte de seu ser. Aquilo estava atrapalhando seus pensamentos, confundindo-o. “Não consigo pensar”, ele pensou. De que adiantaria pensar em qualquer coisa? E deixou-se levar, deixou-se traçar nos lençóis de seu amigo de cartas.

00:03 | Author: t
"Sem crime é o caralho". Edson circulava pelo salão fingindo conversar com os convidados, concentrado na loucura que sabia estar acontecendo no seu quarto. "Não posso mais me culpar. Essa situação vai além de qualquer acordo, qualquer aparência. Foda-se se sou apenas um marido. O tédio e o desejo também são meus. Não tenho que suportar nada.".
Olhou a sua volta. Via a mesma coisa que a mulher, mas não faziam idéia de como dizer isso. As festas, as pessoas, as histórias, tudo já havia sido repassado inúmeras vezes e agora só traziam o sono e a vontade de sumir. Não que sumir fosse fazer diferença, mas não sabia o que fazer. Não sabia o que fazer sobre a própria vida e isso o matava. A vontade de controlar as vidas é uma tentativa de liberdade. No desespero, pensava em mandar matar, quem sabe ele mesmo matar os dois; por pouco, pensou em morrer. "Não aqui, não agora. Vou fazer alguma coisa, mas se fizer depois, terei mais vantagem. Quem sabe eu não transe com as suas amigas. No momento, preciso manter a calma. As festas são chatas, mas coisas importantes estão acontecendo aqui."
Sentou em uma mesa e tentou conversar. Dinheiro, vantagem, mentiras; de vez em quando, se distraía e lembrava de sua mulher no andar de cima transando com o amigo. Nesses curtos momentos, o abismo voltava, o tédio e o óbvio espetáculo apareciam e Edson se sentia denorteado. Tudo bem; depois de quinze minutos, parou de pensar. Voltou a cena, se encheu de terno e de uísque.
Não, nada disso.
"Não preciso suportar nada. A mulher, o amigo, a sociedade, eu mesmo; não preciso suportar nada disso. A vida é curta demais para que eu tenha que suportar qualquer coisa". Levantou e subiu.
Momentos são diamantes.
Avançou decidido pelo corredor, quase arrombando a porta do quarto. Viu os dois nus, se jogou na cama beijando desesperadamente os dois, susurrando "não se assustem, não se assustem..."
21:18 | Author: M.
Eles já haviam se visto em algumas festas. Para o rapaz, eram encontros fortíssimos, ele acompanhava o movimento erótico de seus quadris, enquanto ela andava distraída entre as taças. Ela, indiferente. Sempre muitas pessoas entre os dois e ela quase em todas as ocasiões com seu batom cor de cereja, seus olhos pesados e seu marido perfeitamente ao lado.
- Querida, deixa eu te apresentar. Esse é o Alfredo, é um grande amigo do baralho.
Alfredo salivava de desejo, pensando que a tocaria. Feito um carnívoro faminto.
- Boa noite, como vai a senhora?
Ela o olhou de cima com seu famigerado e delicioso batom cereja acompanhado de um vestido perfeitamente adaptado às curvas que desenhavam o corpo dela.
- Vou muito bem... - e deu as costas derramando uma ferina indiferença, tipicamente dela.
Antes que se sentisse humilhado ou frustrado, percebeu que por sobre os ombros magros escapara um olhar cortante, direto, forte e quase suplicante. O autêntico olhar da mulher que exige ser tomada.
Depois de ocupar seus preciosos minutos ouvindo Edson repetir e repetir histórias de bar e jogatina, Alfredo deu a volta no salão, pegou discreta e aflitamente um copo de uísque e se aproximou. Era a hora da caça.
- Belíssima...
- Desculpe?! - ela se voltou irritada.
- A senhora... Belíssima.
- Você não tem vergonha?!
- Nenhuma...
Dali a meia hora, amavam se loucamente na cama dos anfitriões... Sem marcas, sem testemunhas, sem crime.