05:50 | Author: M.
"Quando morrer, voltarei para buscar todos os instantes que não vivi junto do mar..."



Acordou. Em volta, o quarto a abraçar lhe os olhos. As paredes, silenciosas, leais, que antes expunham fotografias, quadros, estavam vazias. Tudo, tudo, tudo... Tudo no chão. Os joelhos sangrando e as juntas dos dedos. Bibelôs, desenhos, cartas, incensários, livros, lençóis, bolsas, roupas, discos, aparelho de som... Tudo no chão.
Acordou sobre uma cama rota, crua. Mas... Enfim, acordou. E já não podia deixar de ver o que, sob os pés lhe apontavam os cacos de seu antigo ninho. Agora antigo. Era tudo fim.
Puxou os cabelos para trás com leveza para ver com precisão. O nada estava lá, no meio de tantas coisas que ela já não reconhecia. Era só a destruição de suas guerras diárias, era só a ardência de estar viva.
Não saber viver sem explodir é uma sina dos neuróticos incompetentes. Eles têm, precisam... É tudo... Explodir. A força que falta à neurose ridícula devastou o quartel general do equilíbrio. O delírio tomou forma, ganhou razões para não se esconder, não se tolher.
Correu em busca de alguma vassoura, sacos de lixo, precisava limpar tudo, tudo! Não podia seguir observando a loucura. Precisava guardar o que restara e restaurar tudo! Mas já não havia nada além.

Quanta alucinação cabe? Quanta onda cabe? É o feminino, avisaram lhe... É o feminino puxando lhe pelos tornozelos...
A cabeça entre as mãos, os pés apontando pra dentro. (suspiro)
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2 comentários:

On 28 de novembro de 2009 às 14:16 , restos: disse...

a cura pelo mar-tírio

ao invés das paredes, portas, janelas e vidraçarias mentais,
quebra as ondas do mar, o grande buracão do universo, cheio de mistério e quentura advinda das vidas que ali nadam.

grita todos os sons para as águas mornas, quase febris.
pede conselho ao mar, e quando levar uma lapada de areia com espuma e queda, já tens tua resposta.

o grande buracão salgadinho é a maravilha do mundo mais feminina que conheço, apesar do artigo infeliz.

E precisamos (mesmo?) acolher o feminino misterioso e traiçoeiro.

 
On 2 de dezembro de 2009 às 06:18 , Mateus disse...

explosões são necessárias...