23:38 | Author: P
dentre todos os dias ensimesmados, a fatídica rotina dos dias corroidos pelos assinadores de papel e pressionadores de pedais de caixas metálicas móveis, ele dedicou umas poucas horas para a reorganização dos seus livros postos sobre a prateleira ao lado da cama.

cada um deles o tinha marcado profundamente. nunca fora de ir atrás de leituras, os livros e os escritos pareciam simplesmente o buscar. ficava somente aquela sensação de que sempre aqueles livros estavam lá. talvez o fato de não se buscar algo, faz com que esse algo faça profundamente parte de si mesmo.

com o devido cuidado, pegava cada um deles como se fosse um filho, ou um pai, um mestre. através deles lembrava-se do que nunca soubera. folheava os livros como páginas do romance de sua existência, um albúm, um porta-retrato onírico-existencial.

"o senhor sabe o que é o silêncio? é a gente mesmo, por demais..."

foi o que lhe passou pela cabeça ao se deparar com aquele romance que nunca terminou. Grande Sertão...o sertão é do tamanho do mundo...e o sertão é a gente mesmo. ao contrário do que se pensa, nos definimos e somos compostos pelos silêncios que trazemos, não pelo que falamos. o silêncio é a chave.

"circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. o mais é nada."

Pessoa sabia do que falava. e ele a fazia lembrar. folearam certa vez um grande volume, capa avermelhada. não que possuísse nada de seu, mas o que ainda lhe restava dela eram poucas lembranças. e não entendia muito bem porque isso ainda o atormentava.

não entendia porque queria entender. entender limita, estreita a visão. talvez por isso, pouco conversavam. não a conhecia de uma forma convencional. todas as outras pessoas ocupam-se de se conhecer através do que o outro pensa, despensa...do que gosta, do que desgosta...

talvez o maior motivo de lhe devotar tamanha admiração e carinho seja justamente o fato de que ambos se importaram em sentir o outro. ele do seu lado, não se limitou, não a buscou naquilo que idiotamente se formalizou em chamar "conhecer". procurou-a através dos sentidos, dos sentimentos, além das palavras.

"o essencial é invisível aos olhos." e é de um livro infantil que se tiram as maiores lições da vida. crianças não entendem muito bem conceitos. elas não se preocupam se você fala uma coisa assim ou assado. ela simplesmente gosta de você ou não. ela te sente. e sentir é algo que os adultos desaprenderam.

qualquer contato que se tenha com qualquer pessoa é superficial...somente alguns poucos se preocupam em sentir aquilo que você transmite.

durante o curto período que esteve na companhia dela, foi isso o que fez. sentiu. e quando sentiu, sentiu sem pudor, sem limites. ali estava ele, ali ela estava. não precisava de mais nada. a busca do entendimento daquele sentimento fez ruir tudo o que estava sendo despertado. o além...o por trás...o invisível. vislumbrou.

talvez o mau agouro de dizer as palavras (hoje em dia não mais tão) mágicas assim o tenha distanciado: eu te amo. era isso que queria dizer afinal. não disse. a olhou, olhou estarrecido aqueles olhos amendoados, que lhe penetraram a carne e tudo aquilo que mantinha o funcionamento normal do organismo. deslumbrou-se. descobriu-se. e o vento levou...
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5 comentários:

On 11 de julho de 2009 às 07:03 , M. disse...

As mulheres são mesmo loucas...

 
On 11 de julho de 2009 às 23:44 , P disse...

os homens mais ainda =)

 
On 15 de julho de 2009 às 10:47 , moça disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
 
On 15 de julho de 2009 às 10:48 , moça disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
 
On 15 de julho de 2009 às 10:50 , moça disse...

"e sentir é algo que os adultos desaprenderam."
concordo, os adultos guardam rancor e como não tem o pai ou a mãe pra dizer "pede desculpas ao teu irmão!", ele, as vezes, esquece dessa outra palavra mágica, pq a sua palavra mágica está mesmo, cada vez mais, sendo esquecidas de serem faladas pelos adultos!

acho que os dois são loucos na mesma intensidade!
hehehehehehhe
;)