Abrasa meu peito
semente de feminam
Atada ao despeito
de ser beleza.
Realeza da estética.
Palavra absurda que cala
Música abrupta que desleva
teu seio, tua cor na passarela.
É ela, deixa cantar
que é dela.
Tão pequenas tuas mãos
acenam em meu coração
Com lira, verso e poema
No dia raiando cedo
Canta, doce morena.
Teu olho não cabe
na cachaça.
Eu danço e acho graça
De ti, rouxinol ilógico
de mim, poeta psicótico.
Mas deixa
Deixa cantar que ela,
Deixa cantar que é dela.
A noite se fez tua bailarina
E talvez seja esta a tua sina
Então, canta.
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Não, não era a noite que estava insuportavelmente quente nem a conversa acerca das coisas rotineiras e das pequenas teorias da vida cotidiana. Era seu coração que gritava em desespero, querendo arrombar as portas do peito. Sentiu tontura. Suou.
Em casa, tantas tolices.
Ela tinha o dia seguinte.
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Teus labirintos labiais lambem
Os lírios lívidos da manhã
tua manha arranhando o lençol
Arrefecemos o litígio
mordi teu anzol.
Lastimei em minha cova.
Latente lamúria de outrora
paixão anciã que se renova.
Teu corpo, sêda vadia que enrolo
Cede lânguida, saliva e fogo
à ânsia decadente de teu jogo.
Pudica, sorri protituta.
Por que não podes mais
me impultar a culpa
e eu, carrasco de mim
arfante te digo sim.
Travamos batalha irreal
em noites intermináveis
comemos o olho do caos.
Eu fiz de ti minha amante
e tendo teu seio em mãos
não pude seguir adiante.
Perdoa, mulher, me perdoa.
Por que ainda que veja
o quanto te doa
Eu sou esse ser que arqueja
que se perde e não vê
de meu própria barco
a proa.
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Qual é a palavra certa
a porta aberta
pro indizível?
Que idéia se dá inteira
que não se esquiva
não se esconde, matreira?
A busca do traço alíneo
no pálido anteparo
trançando o desalinho.
A língua estalando o falo
batendo na boca do céu.
A frase é um descompasso
entre o amor e o rasgo
largo, quente, frágil.
Perdido nesse labirinto
Entre a vida e o absinto
Eu não vejo
Não toco
Não excito e não sinto.
Palavra.
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Pode ser defeito
pose, chatisse ou despeito
Mas eu tenho abuso
Abuso de quase tudo
abuso de andar no mundo
Respeito os otimistas
Mas não turvo minha vista
pro que me impacienta.
Não bote o seu dedo sujo
no rumo da minha venta.
Me abuso de gente fraca
de gente que não diz nada
Me abuso de gente fútil
que se vê como tão útil
Mas é peso no caminho
prefiro prover silêncio
prefiro ficar sozinho.
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Meu coração, feito de fraco aço
Se despedaça, estilhaço
Estranho espelho em que não me vejo
Cadente apelo em que eu despejo
A dor, a flor e a morte.
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Tudo tão calmo, nenhum som. Não há crianças, nem animais, não há música, não percebo rajadas de vento, não percebo nada além do meu desalento. A grama toma conta da perspectiva, as plantas, plácidas espalham-se pela visão também silenciosas, observando os segredos e os medos alheios.
Meu corpo se contorcendo sem explicação. Sem dor, só desamparo. Por que estou aqui, portanto? Para doar o que não tenho, para arder o que me gela os dedos.
Tudo tão virgem, tudo tão correto, tanto impulso de quebrar, de romper...
Eu não consigo, não posso viver com a perfeição, há sempre algo que precisa feder, que precisa roubar, que eu preciso extirpar, há sempre uma dor pra encontrar.
Vou largar a poesia, mas ela não me larga, ela me acompanha quando eu sonho, quando eu ponho à mesa toda a minha agonia.
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Se já sou bomba enlouquecida
Veja bem
agora em que se dá a despedida.
Se antes titubeava vacilante
Hoje sou trama
Dama de crueldade lancinante.
O meu tempo que dá voltas
piruetas;
Me deixou na porta
a encarar os caretas.
Não temo o fim de meus dias
não temo a dor e a folia
Darei as mãos pra agonia
Eu vou, eu vou, eu vou....
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Por que é de mim
que eu me difiro
paradoxo ácido
ao qual me refiro
Por que faço tempestade
e me ajoelho, majestade
Por que eu alivio
dissolvo, respiro
Há mim sobre mim
Rodopio
Tracei uma linha reta
Mas meu mundo é arrepio.
Sou aço, cobre, flecha
Sou diva, louca no cio
É um ciclo que em mim se fecha
Cálido, livre, valente vacilo...
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